As preocupações de ajuste dos ambientes de trabalho remontam ao século XVIII, quando a revolução industrial, na Inglaterra, trouxe consigo os distúrbios e as doenças resultantes de esforços repetitivos no trabalho. À medida em que os trabalhadores foram levados à racionalização de movimentos e concentração de esforços nos mesmo conjuntos osteomusculares, a adoção de novas tecnologias e métodos gerenciais trouxeram-lhes duas consequências:

  1. Incentivo à inatividade física, ou sedentarismo, o mal do século atual, como refere o Marcelo Fernandes[1], provocando a diminuição do movimento corporal espontâneo, o que pode resultar no aumento das chamadas doenças hipocinéticas, como obesidade, entre outras.
  2. Intensificação do sofrimento e adoecimento, expresso, dentre outros, pelas Lesões por Esforços Repetitivos (LER), ou pelos Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT).

 

Juntem-se a isso, outros males do mundo moderno do trabalho: fadiga física, mental e emocional. Além dos notórios danos à saúde dos trabalhadores, ficam comprometidos outros aspectos como a qualidade e a produtividade dos seus serviços.

 

Diante desse contexto, ganha espaço uma ciência, denominada ERGONOMIA, propondo novas formas de relacionamento do homem com o trabalho: uma ação ergonomizadora, que se propõe fazer ajustes que transcendam a relação homem-posto-tarefa. Como orienta a Norma Regulamentadora NR 17 da Portaria 3214/78, aspectos ambientais e organizacionais do ambiente e forma de trabalho, aspectos comunicacionais, metas, ritmos e pausas, vão ter reflexo direto nesse ajuste buscado.

 

Em suas palestras, o Prof. Marcelo, fez uma profunda reflexão sobre a influência dos ajustes ergonômicos na  preservação da saúde, produtividade e qualidade – tanto dos serviços, quanto da própria qualidade de vida do trabalhador.

    Professor Marcelo Fernandes realizando sua aula de ginástica laboral.

 

Uma forma de atuar sobre as distorções de hábitos e sobrecargas no trabalho, como ensina o Prof. Marcelo, está na aplicação de um programa de ginástica laboral, adequado não só às solicitações físicas e mentais de cada setor, como ao momento em que deve ser praticado. Essa atividade, cientificamente inserida num programa de Ergonomia, poderá se constituir numa ótima ferramenta auxiliar na redução de danos e no ganho de produtividade.

 

O prof. Marcelo segue esclarecendo que “a ginástica laboral (GL) pode ser conceituada como um programa de exercícios físicos, orientado por profissional habilitado, e concebido a partir da análise criteriosa do ambiente. Surgiu em 1925 na Polônia, e se consolidou no Japão, em 1928, como a ginástica pelo rádio (rádio Taissô) em comemoração à posse do Imperador Hirohito. Foi adotada como prática diária por empresas, serviços e escolas, visando a descontração e o cultivo da saúde. No Brasil, a GL, que precedia a ida dos funcionários aos postos de trabalho, foi introduzida em 1969 pelos executivos nipônicos da Ishikavajima Estaleiros, uma indústria de construção naval no Rio de Janeiro”.

 

Conforme ensina Marcelo Fernandes, a GL pode ser classificada quanto ao seu momento de execução:

  1. GL Preparatória, que ocorre no início da jornada de trabalho, tem como objetivo preparar o trabalhador para o dia que está começando, cuja exigência física do trabalhador é maior;
  2. GL Compensatória, que ocorre no meio da jornada de trabalho, normalmente, após um período prolongado de trabalho, visa relaxar as estruturas corporais mais sobrecarregadas e movimentar àquelas menos solicitadas;
  3. GL Relaxante, que ocorre no final da jornada de trabalho, tem como principal objetivo diminuir o nível de estresse do trabalhador, de forma que esteja mais relaxado ao retornar para sua casa. Independentemente do tipo de GL, as aulas duram de 10 a 15 minutos.

 

Ao longo de seus 18 anos de experiência nessa área, Marcelo se preocupou em dar uma nova dimensão a esses programas, de modo que fizesse a diferença na vida das pessoas – dentro e fora do ambiente de trabalho. Disso resultou um método inovador: a Ginástica Laboral Funcional (GLF) que conforme esclarece, “objetiva uma abordagem de correção postural para, então, aperfeiçoar a qualidade do movimento. O foco das aulas passa a ser no movimento e não no músculo de forma isolada. Dessa forma, a prevenção e o combate às doenças ocupacionais; a redução dos acidentes de trabalho, absenteísmo e de afastamentos; o aumento da disposição, do relacionamento interpessoal e da cooperação entre as equipes de trabalho; são resultados percebidos mais rapidamente que a GL tradicional”, complementa.

 

Relata entusiasmado, que “recentes pesquisas sobre aplicação da GLF mostraram que é possível criar uma atmosfera estimulante e os resultados são percebidos na metade do tempo. No gráfico que segue, pode-se verificar as mudanças ocorridas no ambiente de trabalho em apenas 06 meses, onde a diminuição de dores foi o maior apontamento. Sabe-se que a dor antecede a lesão, que por sua vez, precede a falta ao trabalho, e, por fim, o afastamento. Vale ressaltar a melhora na disposição e na integração, bem como a diminuição no risco de desenvolver as doenças ocupacionais”.

Pesquisa sobre mudanças da GLF no ambiente de trabalho.

 

Num país onde os adoecimentos no trabalho se contam na ordem de quatro milhões de trabalhadores, o problema – evidentemente social – assume conotações de epidemia, onde os prejuízos não ficam só por conta da vultosa quantia despendida pela previdência social; a essa, juntam-se custos organizacionais, redução de produção e produtividade, sobrecarga aos colegas remanescentes do afastado, aumento do absenteísmo, a serem enfrentados pelo empregador.  Ao trabalhador, o sofrimento físico, muitas vezes é acompanhado de depressão, perda da alegria de viver e insegurança quanto ao seu futuro.  O problema é internacional. Conforme um estudo do The U. S. Department of Labor (apud Moraes, P.V.T e Bastos, A.V.B)[2], nos EUA, os custos com LER/DORT são em torno de U$ 50 bilhões por ano. Por conseguinte, o bom senso aponta que sejam envidados todos os esforços possíveis para a erradicação dessa chaga moderna, em que não há vitoriosos:  somos todos perdedores.

 

[1] Marcelo Fernandes é Profissional de Educação Física,  especialista  em Ergonomia pela UFRGS e Diretor da CONCEITO Promoções em Atividade Física LTDA.

[2]Moraes, P.V.T e Bastos, A.V.B –  As LER/DORT e os Fatores Psicossociais. Arq. bras. psicol. vol.65 no.1 Rio de Janeiro, jun. 2013. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1809-52672013000100002&script=sci_arttext acessado em  Dezembro de 2014.

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